quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pesquisa de Miguel Nicolelis dá a largada para criar 'internet cerebral' 

Neurocientista conseguiu fazer com que ratos transmitissem informações entre seus cérebros a milhares de quilômetros entre si, criando a primeira interface cérebro-cérebro. É o passo inicial para criar, no futuro, uma rede capaz de ligar as pessoas por meio do pensamento

Internet cerebral: pesquisa feita pela equipe de Miguel Nicolelis dá o pontapé inicial para criar 'brainet'

Em 2011, no livro Muito Além do Nosso Eu: A Nova Neurociência Que Une Cérebros e Máquinas e Como Ela Pode Mudar Nossas Vidas (Ed. Cia. das Letras), o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis propõe o conceito de brainet, uma avançada rede pela qual seria possível se comunicar através de ondas cerebrais com outras pessoas, uma espécie de 'internet cerebral'. Nesta quinta, ele anuncia o primeiro passo para que isso um dia se torne realidade. Em sua pesquisa mais recente, sua equipe conseguiu ligar eletronicamente os cérebros de dois ratos. Após terem microeletrodos instalados em suas cabeças, os animais passaram a se comunicar por meio da transmissão dos sinais elétricos produzidos por seus neurônios, e colaboraram para a resolução de tarefas mesmo quando não estavam na presença um do outro. Desse modo, os cientistas conseguiram criar, pela primeira vez, uma interface cérebro-cérebro. O estudo, realizado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, e no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), foi publicado na revistaScientific Reports.
Até agora, as pesquisas desenvolvidas por Miguel Nicolelis se voltavam principalmente ao estudo de novas interfaces cérebro-máquina-cérebro. Elas consistiam, basicamente, em captar a atividade elétrica no cérebro de um animal e traduzi-la para comandos eletrônicos, que podiam ser lidos por artefatos robóticos. O pesquisador havia conseguido, por exemplo, fazer um macaco controlar uma mão virtual apenas com o seu pensamento. Segundo Nicolelis, o desenvolvimento de uma interface cérebro-cérebro representa a progressão lógica dessas pesquisas. "Em nossos laboratórios, nós buscamos descobrir os limites do cérebro. Já o fizemos se comunicar com máquinas, com avatares em computador e até com sensores de luz infravermelha. Desta vez, nós tentamos descobrir se o cérebro é capaz de assimilar os sentidos de outro corpo", disse Nicolelis em entrevista ao site de VEJA.
Para testar a hipótese, os pesquisadores realizaram uma série de três experimentos em ratos. No primeiro, os animais foram treinados para realizar uma tarefa simples: eles eram colocados em um compartimento de frente para duas alavancas, e deveriam escolher qual delas pressionar de acordo com uma luz que acendia sobre ela. Se escolhessem a correta, ganhavam um gole de água como recompensa.
Depois que os animais aprenderam a realizar a tarefa, os pesquisadores inseriram microeletrodos em seus cérebros, na região do cérebro que processa as informações motoras (córtex motor), e os separam em dois grupos: codificadores e decodificadores. Os primeiros teriam a atividade elétrica de seu cérebro registrada durante a execução da tarefa e transmitida adiante. Os segundos seriam treinados para receber e compreender essa informação, implantada diretamente em seu córtex motor.



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